segunda-feira, 10 de março de 2014

O COMEÇO

O COMEÇO

O dia estava tranqüilo e tão ensolarado,
Tudo parecia estar em seu lugar
As pessoas agindo de maneira comum
Móveis e objetos me olhavam de forma mais sensível
Que a mesmice dos dias passados
Quem podia imaginar que até a noite
Nada de tão diferente estava para acontecer

Continuei em meus afazeres rotineiros
Meu peito doía de solidão e abandono
Como se estivesse a me despedir de coisas
Do meu jeito olhei tudo e cada coisa como a me despedir
Fui ao jardim e vi minhas azaléias
Brancas e rosas parecerem tão normais
O sol brilhava forte em minha testa

Comecei agindo, limpando e cozinhando ,
as mesmas atitudes de todos os dias
pareciam automáticas, e eu uma daquelas mulheres robóticas
Sequer podia imaginar que tudo mudaria tão rápido
Minha cabecinha quase infantil nada atingia
Tinha certeza de que esse era meu lugar e minha moradia
Meus olhos nada viam além

Meus filhos alimentados me esperavam brincando
Tomei banho , perfumada e feliz, sorri
Brinquei com os dois, contei-lhes uma história
O sono chegou e cantei para adormecerem e sonhar
Deitei e tão cansada cochilei profunda e mansamente
Foi quando ele chegou com cheiro de rua e chorei
ao escutar palavras que não entendia desmaiei

Bem de longe podia ainda ouvir sua voz alta e rude
Dizia para eu acordar e parar de fingir
Voltar, ficar e explicar o que tinha feito o dia inteiro
E quanto mais sua voz se levantava,
O meu medo aumentava e foi aí que
Sem nada perceber ou querer
Parei de ouvir sua voz e comecei a ver meu corpo
O MEDO

Aconteceu tudo tão rápido que de repente sem perceber
Eu estava enxergando meu corpo solto no ar
Flutuava como se estivesse voando solta
Me vi branca e de tão branca não me enxergava
Assustada queria entender onde estava ou para onde iria
Mas não existia nada perto de mim
Só névoas sem fim

Passeava pelas nuvens que de tão alvas e transparentes
me fizeram sentir parte do firmamento
A sensação demorada e cheia de medo ocultou o tempo
Tentava andar e não conseguia porque estava solta
uma mistura de medo e liberdade infinita
Mas mesmo sem entender nada me deixei levar
Nas névoas sem fim

Comecei a perceber que entre as nuvens tinham árvores
Enormes e em seus galhos longos muitos flocos brancos
As árvores se abriram e entre elas um caminho
Mas não era de terra, mais parecia algodão
Um vulto claro iluminado pegou minha mão
Entramos nesse caminho andando devagar
E meu medo passou

E nesse instante percebi realmente que não estava aqui
Em cada lado desse caminho vi pessoas parentes
Entes queridos que também estavam ali
Eu olhava tudo com deslumbramento e alegria
Tive a certeza de estar morta e salva
Feliz segui em frente curiosa
Ouvi uma voz

Fixei meus olhos atentamente precisava ver se sonhava
Mas era verdade eu estava vivenciando tudo
Meus avós e outros espíritos sorriam para mim, foi
quando o ancião que ainda segurava minha mão pediu que eu parasse mas eu queria seguir, chegar perto daquelas duas crianças que sorriam e me chamavam; - mamãe , somos nós seus filhos , e foi aí que chorei então .

                                  Beijokas a todos e linda semana.